quinta-feira, 12 de março de 2009

ENTRE O CÃO E O BEBÊ


Marina e Josias se conheceram na adolescência, mas o destino se incumbiu de separá-los. Quando se re-encontraram, casaram-se logo após o primeiro aniversário de namoro. Josias, um microempresário. Marina, professora de língua estrangeira. Curtiram seu primeiro ano de casamento, assim como o segundo e o terceiro. Veio a vontade de terem filhos, mas as diversas tentativas insistiam em falhar. Enquanto não conseguiam, arrumaram um cachorro. Não um de rua, pobrezinho, abandonado. Foram ao Pet-shop. Raça tal porque é mais. Raça tal porque é mais. Raça tal porque é mais bonita. Raça assim, assim, assado...

Nota no jornal: “Insistindo em ter um pimpolho. Venha a nossa clinica. Aqui você receberá total atenção de nossos geneticistas. Seu filho será livrado de doenças em potencial, e você ainda poderá escolher se seu filho será mais tranqüilo e independente. Companheiro e brincalhão. Cor dos olhos, cor do cabelo, e uma série de coisas mais. LIGUE (XX) YYXY-XYXX”. Esclarecimentos na Revista da Semana de 12 de Março.

Marina e Josias insistiam em ter um filho. Não um garotinho adotado, pobrezinho, abandonado. Principalmente agora que Mike, o cachorro, morreu. O motivo da morte do cão veio a ser esclarecido na revista Super-Interessante do mês de Março. Cruzamentos de raças ao longo dos anos para criar uma maior variedade de cães, acarretaram na passagem de genes defeituosos. Josias e Marina não leram a matéria. Estavam tristes demais pela perda de Mike.

Na clínica estética, ou melhor, genética, ou melhor, de fertilização, Marina começou seu tratamento. Consultou a tabela de variedades. Implantou cinco óvulos fertilizados. Todos vingaram, mas eles queriam ter apenas um. Achavam que ter tantos filhotes é coisa pra cachorro.

Nove meses de expectativa. Nasceu Michael. Que beleza de bebê.

Nenhum comentário:

 
;